A advocacia brasileira enfrenta um dos maiores períodos de precarização de sua história, marcada pelo excesso de cursos de Direito, baixos honorários e enormes obstáculos para captação de clientes. A Associação Brasileira de Advogados (ABA) alerta para a urgência de medidas que devolvam dignidade e respeito ao exercício profissional.
O excesso de faculdades de Direito e a saturação do mercado
Nos últimos anos, o Brasil se tornou o país com o maior número de cursos de Direito no mundo. Essa realidade, longe de representar apenas uma democratização do ensino, trouxe sérios problemas estruturais para a profissão. O excesso de faculdades de Direito gera um contingente de bacharéis que ultrapassa em muito a capacidade de absorção do mercado, criando uma concorrência predatória e artificial entre colegas.
Essa saturação tem como efeito imediato a precarização do trabalho. Muitos jovens advogados ingressam no mercado sem orientação adequada, sem preparo prático e, principalmente, sem oportunidades reais de se estabelecerem. A abundância de profissionais disponíveis leva a uma disputa injusta, onde muitas vezes o preço do serviço é reduzido a patamares incompatíveis com a qualidade e a responsabilidade exigida pela advocacia.
Além disso, o foco de muitas instituições de ensino está apenas em números: abrir turmas, formar alunos e colocar novos bacharéis no mercado, sem a preocupação com a real inserção profissional desses futuros advogados. Esse ciclo vicioso resulta em frustração, desmotivação e sensação de abandono entre milhares de colegas que, mesmo dedicados, não encontram espaço digno na carreira.
A Associação Brasileira de Advogados (ABA) tem defendido que a formação jurídica precisa ser repensada. Mais do que quantidade, é preciso priorizar qualidade, com currículos alinhados às necessidades reais do mercado e com maior integração entre ensino e prática profissional. O advogado não pode ser tratado como mero número em estatísticas de graduação.
Baixa remuneração e desrespeito aos honorários advocatícios
Outro ponto central na precarização da advocacia é a baixa remuneração. Em um cenário de excesso de profissionais, a lógica da competição desleal leva a uma desvalorização dos honorários. Muitos colegas acabam aceitando valores irrisórios apenas para não perder clientes, criando um ciclo de aviltamento que compromete toda a classe.
Honorários aviltantes não prejudicam apenas o advogado individualmente; eles desestruturam toda a lógica da profissão, que passa a ser vista pela sociedade como um serviço de baixo custo, quando, na realidade, exige anos de estudo, atualização constante e enorme responsabilidade. O trabalho do advogado não é uma mercadoria comum — trata-se de uma função essencial à Justiça e à democracia.
A ausência de mecanismos eficazes de valorização profissional deixa muitos colegas em situação de vulnerabilidade econômica. Jovens advogados, recém-formados, muitas vezes não conseguem sequer cobrir suas despesas básicas de manutenção do escritório. Profissionais experientes, por sua vez, enfrentam um mercado cada vez mais competitivo e pressionado por clientes que buscam sempre o menor preço.
Nesse contexto, a ABA tem levantado a voz para defender que a valorização da advocacia passa, necessariamente, pelo respeito aos honorários. A entidade propõe que sejam estimuladas boas práticas de remuneração, capacitação em gestão de carreira e orientação estratégica para que os advogados não precisem se sujeitar a condições indignas de trabalho.
Dificuldade em captar clientes e a falta de apoio ao advogado
Além da saturação do mercado e da baixa remuneração, os advogados brasileiros enfrentam uma das maiores dificuldades do exercício profissional: a captação de clientes. O marketing jurídico ainda é restritivo e cercado de inseguranças, o que faz com que muitos profissionais não saibam como se posicionar estrategicamente para serem reconhecidos e procurados pela sociedade.
A ausência de apoio institucional agrava ainda mais esse problema. Muitos advogados sentem-se sozinhos, sem redes de contatos, sem acesso a capacitações práticas e sem o suporte necessário para desenvolver sua carreira. Esse isolamento leva, inevitavelmente, à desistência de muitos profissionais que sonhavam com a advocacia, mas não encontram caminhos para torná-la viável economicamente.
A ABA tem buscado ocupar esse espaço com programas de visibilidade, networking e capacitação, oferecendo aos seus associados meios concretos de crescimento. Para a entidade, apoiar o advogado significa criar condições para que ele prospere, seja respeitado e consiga viver dignamente de sua profissão. Não basta apenas falar em defesa da advocacia; é preciso oferecer ferramentas reais de transformação.
Sobre essa realidade, o presidente da ABA, Esdras Dantas de Souza, ressalta:
“Não podemos aceitar que o advogado, que é indispensável à Justiça, viva em condições precárias. A missão da ABA é clara: promover o crescimento e o reconhecimento profissional de cada colega, transformando a advocacia em um espaço de dignidade e orgulho.”
Essa visão reafirma que o fortalecimento da classe depende de união, de projetos concretos e de uma atuação firme em defesa da valorização da profissão. O advogado não pode ser deixado à própria sorte em um mercado cada vez mais competitivo e excludente.
Conclusão: é hora de reagir à precarização
A advocacia brasileira está diante de um desafio histórico. O excesso de faculdades de Direito, a baixa remuneração e a dificuldade de captar clientes são sintomas de um processo de precarização que ameaça a essência da profissão. No entanto, esse cenário não pode ser aceito como irreversível.
É hora de reagir, unir forças e exigir respeito à advocacia. A valorização do advogado é também a valorização da Justiça, da cidadania e do Estado de Direito. Entidades como a ABA mostram que é possível criar alternativas, oferecer suporte e devolver aos profissionais a confiança no futuro da carreira.
O advogado brasileiro precisa voltar a ser reconhecido como pilar da democracia e defensor da sociedade. Para isso, é fundamental enfrentar a precarização com coragem, união e determinação. A advocacia não pode ser reduzida a números, nem a honorários aviltados; ela precisa ser, novamente, símbolo de dignidade e respeito.