Desde o começo dos tempos, as pessoas pensaram, agiram e viveram de modo diverso umas das outras. Obviamente alguém iria querer saber por que as pessoas eram diferentes – por que algumas são mais inteligentes ou mais éticas – e se havia alguma coisa que se tornava permanentemente distintas. Essa questão foi vista de duas maneiras pelos estudiosos. Alguns afirmavam que havia forte base física para as diferenças, que as tornava inevitáveis e inalteráveis. Ao longo do tempo, a essas alegadas diferenças físicas foram acrescidos as protuberâncias cranianas (frenologia), o tamanho e a forma do crânio (craniologia) e, hoje em dia, os genes.
Outros apontaram para a grande diversidade de formação de cada pessoa suas experiências, o treinamento ou formas de aprendizado. Talvez você se surpreenda ao saber que um dos grandes defensores dessa opinião foi Alfred Binet, inventor do teste de quociente de inteligência (QI). Seria o objetivo desse teste resumir a inteligência imutável das crianças? Na verdade, não. Binet, francês que trabalhou em Paris no início do século XX,k pretendia identificar as crianças que não estivessem obtendo êxito no aprendizado nas escolas públicas parisienses, a fim de possibilitar a criação de novos programas educacionais que permitissem a sua recuperação. Sem negar as diferenças individuais nols intelectos infantis, Binet acreditava que a educação e a prática seriam capazes de produzir mudanças fundamentais na inteligência. Eis um trecho de uma de suas principais obras, Ideias modernas sobre as crianças, no qual ele resume o trabalho que realizou com centenas de crianças que tinham dificuldades de aprendizado:
“Alguns filósofos modernos […] afirmam que a inteligência de um indivíduo é uma quantidade fixa, uma quantidade que não pode ser aumentada. Devemos reagir e protestar contra esse pessimismo brutal. […] Com a prática, o treinamento e, acima de tudo, o método, somos capazes de aperfeiçoar nossa atenção, nossa memória e nossa capacidade de julgamento, tornando-nos literalmente mais inteligentes do que éramos antes”.
Quem terá razão? Hoje em dia, a maioria dos especialistas concorda que não há uma única resposta. Não se trata de natureza ou estímulo, genes ou meio ambiente. A partir da concepção, há um intercâmbio constante entre uma coisa e outra. É claro que cada um possui uma dotação genética específica. As pessoas podem ter diferentes temperamentos e aptidões no início de suas vidas, mas evidentemente a experiência, o treinamento e o esforço pessoal conduzem-nas no restante do percurso. Robert Sternberg, o guru da inteligência na atualidade, escreveu que o principal modo de aquisição de conhecimento especializado “não é alguma capacidade prévia e fixa, e sim a dedicação com objetivo”. Ou, como reconheceu seu precursor Binet, nem sempre as pessoas que começam a vida como as mais inteligentes acabam sendo as mais inteligentes.
Por Carol S. Dweck, ph.D, em seu livro “Mindset – A nova psicologia do sucesso”.