Entrevista com Patrícia Garrote. Uma vida dedicada à advocacia.

A revista Ordem Democrática entrevistou, nesta segunda-feira, dia 3 de maio, a advogada Patrícia Garrote, pré-candidata à presidência da Ordem do Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal.

Advogada militante e palestrante, Patrícia Garrote é conhecida por seu comprometimento ético com a advocacia.  É presidente do Instituto Patrícia Garrote de Educação, Diretora da ABA-DF e tem atuação marcante nas áreas do Direito de Família e Sucessões.

Nascida no Rio de Janeiro, Patrícia Garrote chegou em Brasília ainda criança e na Capital Federal fez a sua história, cursando administração de empresas no Uniceub onde, posteriormente, se formou em pedagogia. Seu foco era, inicialmente, ser professora. A paixão pelo Direito surgiu anos depois, já na maturidade, quando, aos 40 anos, decidiu fazer vestibular. Foi na universidade Unieuro que, antes mesmo de completar 44 anos de idade, foi diplomada bacharel e, de quebra, se pós-graduou em Direito Civil e Processual Civil na universidade Gama Filho.

Casada, mãe de quatro filhos, Patricia Garrote se diz realizada em sua vida pessoal, deixando claro que a agitação de sua vida profissional é o que a faz levantar da cama todas as manhãs com entusiasmo e disposição para enfrentar a dura realidade de uma advogada de família determinada a fazer a diferença na vida das pessoas.

Pré-candidata à Presidência da OAB/DF, uma de suas principais bandeiras é defender, na prática, os direitos da mulher advogada que há muitos anos tem sido relegada a segundo plano. Deseja, ainda, defender intransigentemente as prerrogativas profissionais de todos e de todas que estejam sendo alvo de desrespeito de quaisquer autoridades no exercício de sua profissão. Sempre que pode lembra que “as prerrogativas previstas no estatuto da advocacia não nos pertencem, e sim aos cidadãos que representamos em juízo. São prerrogativas para que advogados e clientes não sejam desrespeitados por autoridades que insistem em violá-las diariamente”, afirma a advogada com a convicção de quem sabe o que está falando.

Ordem democrática: Dra. Patrícia, por que se candidatar?

Dra. Patrícia Garrote: Decidi me apresentar como pré-candidata à Presidência da OAB-DF porque estou sendo procurada e incentivada por centenas de colegas de profissão que insistem que eu lidere um movimento para mudar a atual postura da nossa entidade.  Tenho ouvido muito que a OAB DF deu as costas para os advogados.  As gestões têm permanecido inertes quanto aos verdadeiros anseios dos advogados do Distrito Federal. Basta perguntar aos colegas advogados da capital federal: o que a Ordem fez por você? Em que ela lhe ajudou durante a pandemia? Que benefício pessoal ou profissional tem colhido da nossa seccional? Às essas perguntas a resposta é sempre a mesma: NADA! Diante dessa frustração decidi colocar meu nome à disposição da classe para mudar essa triste porém inconteste realidade.

Ordem democrática: A senhora é uma advogada experiente. Como essa experiência a ajudará em sua gestão à frente da Ordem?

Dra. Patrícia Garrote: Sem dúvida nenhuma minha experiência como advogada militante pode me ajudar a voltar a entidade totalmente para os advogados. Na minha gestão a mulher terá vez. Ela não será enganada. Depois da eleição, não será esquecida. Ela participará efetivamente das discussões sobre os temas de interesse de todos. Minha gestão será totalmente voltada para o bem de todos, para a inclusão, para retomar de forma efetiva o que a Ordem nasceu para ser. Hoje a Ordem não é mais dos advogados, nem das advogadas, e isso me deprime. Como advogada militante, que vive exclusivamente da advocacia, sei das dores da classe. Conheço cada dificuldade, já passei por todas, já caí e levantei inúmeras vezes e nunca, repito, nunca, a Ordem fez nada por mim como nunca fez nada pelos advogados. Sei da morosidade da justiça, de juízes que não recebem advogados, de serventuários da justiça que não atendem bem o advogado, dentre outras dificuldades por nós enfrentadas. Na minha administração a OAB não ficará parada, irá representar qualquer autoridade que insistir em engavetar nossos pedidos de tutela jurisdicional. Como não tenho “rabo preso” com ninguém, poderei fazer o que tem de ser feito sem medo de desagradar um ou outro. Prometo fazer o que o nosso órgão de classe deve fazer, que é defender, verdadeiramente, todos os interesses dos advogados – e não apenas os interesses pessoais dos seus dirigentes e de seus amigos. Quero, na verdade, fazer com que a Ordem seja chamada de casa de amigos. Hoje, isso não é possível.

Ordem Democrática: Na sua opinião quais são as maiores dificuldades dos advogados do Distrito Federal?

Dra. Patrícia Garrote: Eu e a grande maioria dos advogados militantes do Distrito Federal sentimos que estamos totalmente desassistidos por nosso órgão de classe em quase todos os aspectos. Há um sentimento de total abandono, estamos órfãos, principalmente nesse período de pandemia do Covid 19. Conheci colegas com dificuldade de sobreviver da advocacia, de pagar a anuidade, a assinatura digital e até o token, advogadas me mandando mensagens desesperadas sem saber como colocar comida em casa. Ali vi que tem algo errado que precisa ser consertado. Está faltando gestão, interesse, preocupação genuína com quem merece nosso respeito e consideração. Recebo colegas reclamando da falta total de condições de se inserir no mercado de trabalho, conseguir clientes, ter visibilidade, ser valorizado e conhecido, surpresos e indignados por serem perseguidos em razão de usarem as mídias sociais para tentar conseguir clientes e assim sobreviverem. Os colegas se ressentem da falta de apoio quanto à morosidade da justiça, à burocracia do judiciário e à valorização da advocacia. Nossos colegas têm muitas outras dificuldades, mas cito agora apenas essas como exemplo.

Ordem Democrática: Qual a sua proposta para aqueles que estão ingressando agora na profissão de advogados e advogadas?

Dra. Patrícia Garrote: a esse público tenho uma proposta concreta, que é a de apoio total. Os advogados em início de carreira precisam de acolhimento, orientação, um ombro amigo. Precisam de mais liberdade para mostrar o seu perfil pessoal e profissional nas redes sociais. Os tempos são outros. A Ordem precisa parar de perseguir os colegas, que estão tentando sobreviver da advocacia e estão sendo prejudicados, impedidos de captar clientes pela internet, algo inaceitável no mundo digital em que vivemos. Vivemos dos honorários que nossos clientes nos pagam, sem isso paramos, morremos de fome, buscamos alternativas quando temos a profissão mais antiga e nobre do mundo! Advogados precisam da Ordem para defender seus interesses nos momentos difíceis que enfrentam no dia a dia da advocacia, o que a OAB não faz para todos, apenas para os “mais chegados” ou para quem tem relevância na sociedade.  Sinto que os dirigentes da Ordem são daqueles que tem vergonha de carregar embrulho na rua, de falar com advogados mais humildes. Isso tem que mudar! A OAB não pode mais ser apenas de uma elite exclusiva que pega nossos votos e perpetua um sistema de panelinha no qual ninguém entra! A Ordem é de todos, quero provar que isso é possível. Todos os advogados merecem ter o mesmo direito absolutamente todos, e não somente quem tem nome, poder, relevância e ativos financeiros na conta, como ocorre não só na Ordem mas em vários segmentos em nosso país. Isso tem de mudar, chega de colocar na cadeira da presidência quem não trabalha para o melhor interesse da classe.

Ordem Democrática: e em relação ao advogado empregado? Qual é a sua proposta?

Dra. Patrícia Garrote: o advogado empregado é o que mais tem sofrido com a pandemia e com a realidade digital. Seu trabalho vem sendo desvalorizado por vários escritórios que os tem explorado, pagando remuneração abaixo da tabela, contando com a total omissão da entidade para continuarem a agir dessa forma. Esses advogados são desrespeitados e humilhados pois a Ordem não possui nenhum programa de apoio ao advogado empregado, não tem coragem de defendê-los diante da conduta desrespeitosa de alguns grandes escritórios de advocacia de nossa cidade.  Na minha gestão tratarei pessoalmente desse assunto, implementando um programa de incentivo e de apoio ao advogado empregado que já está em fase de conclusão.

Ordem Democrática: e em relação ao advogado público?

Dra. Patrícia Garrote: apesar desse segmento já ter tido muitas conquistas nos últimos anos, na nossa gestão o apoio será total. Estaremos presentes sempre que os advogados públicos estiverem em situação de conflito com seus empregadores. Daremos apoio às reivindicações legítimas, principalmente no que diz respeito à melhoria salarial, que está defasada. A OAB há muito não ajuda os advogados públicos em suas reivindicações.  Eles só servem para pagar e votar, como, aliás, acontece com o restante da categoria.

Ordem Democrática: o que diria aos advogados do Distrito Federal sobre sua intenção de se candidatar à presidência?

Dra. Patricia Garrote: diria para confiarem numa gestão colaborativa, participativa, acolhedora e inclusiva, descartando qualquer tipo de proposta que perpetue o que já existe, que é apenas mais do mesmo, ou seja, políticos em busca do seu voto prometendo o que jamais irão cumprir porque estão usando a Ordem como palanque ou trampolim político. Eu não tenho intenção de concorrer a nada, nunca fui candidata a nenhum cargo, essa é minha primeira vez, mas eu penso que se posso administrar um escritório que começou do absoluto zero e sem nenhum tipo de privilégio, suborno ou nome forte por trás se tornou conhecido e renomado, posso também administrar uma entidade que tem tudo para ser incrível, uma verdadeira casa de amigos e de amigas. Na minha gestão as portas estarão abertas para estudantes, bacharéis, advogados iniciantes e veteranos. Chega de portas fechadas, chega de política. Falaremos mais de advocacia e de como ensinar e apoiar os advogados para que sobrevivam e vivam dessa valiosa profissão.

Para terminar, agradeço o convite para a entrevista e afirmo, sem medo de errar, que existe um movimento imparável e irreversível reclamando mudança, e, como gosto de um desafio, missão dada acaba virando missão cumprida. O que vemos por aí infelizmente é mais do mesmo, uma batalha de poder e vaidade sem pena de quem importa (e vota), e estamos exaustos dessa mesmice que é nos sentirmos enganados por um sistema que não muda nunca e nos deixa de fora do que deveria ser o nosso abrigo mais seguro. Chega de perpetuarmos o que não está bom nem serve mais para a advocacia. Vamos jogar limpo, está nas nossas mãos o poder de mudar. Mudança já. Por uma Nova Ordem – esse será o nome da minha chapa, se Deus assim permitir. Que comecem os jogos.

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