Saúde mental, apoio emocional e dignidade profissional para advogados e advogadas
Por Esdras Dantas
A advocacia é uma das profissões mais respeitadas da sociedade, mas também uma das mais desafiadoras. O advogado carrega sobre os ombros a responsabilidade de defender direitos, enfrentar autoridades e ser a última voz do cidadão diante do Estado. Essa missão, embora nobre, tem um custo invisível: a saúde mental dos profissionais.
Pressão, ansiedade, solidão e até quadros de depressão são relatos cada vez mais comuns entre advogados e advogadas de diferentes áreas. A rotina intensa, somada à desvalorização social e às dificuldades financeiras da profissão, cria um ambiente que pode ser devastador para o equilíbrio emocional.
Na Associação Brasileira de Advogados (ABA), acreditamos que a valorização da advocacia não pode se restringir a pautas econômicas ou institucionais. É preciso enxergar o ser humano por trás da toga, cuidar da mente e oferecer suporte emocional àqueles que dedicam a vida à Justiça. Cuidar da mente é valorizar a advocacia, e esse é um compromisso que assumimos como prioridade.
A solidão da advocacia: um problema silencioso
Embora muitos imaginem o advogado como alguém cercado de pessoas — clientes, colegas, juízes, promotores — a realidade é que a advocacia pode ser uma profissão profundamente solitária. O advogado carrega sozinho a responsabilidade pelas decisões que toma, pelo rumo dos processos e, muitas vezes, pelo futuro de seus clientes.
Essa solidão é agravada por uma cultura que ainda resiste em admitir fraquezas emocionais. O advogado é visto como alguém que deve ser sempre forte, preparado e seguro. Porém, por trás dessa imagem, há homens e mulheres que enfrentam angústias, dúvidas e pressões que se acumulam com o tempo.
A ausência de espaços institucionais de acolhimento contribui para esse quadro. Muitos advogados não encontram canais de apoio quando precisam de orientação emocional. O resultado é uma rotina marcada pelo isolamento, pela exaustão e, em casos extremos, pelo adoecimento psíquico.
Ignorar essa realidade é ignorar uma das maiores dores da advocacia contemporânea. Reconhecer a solidão da profissão é o primeiro passo para criar soluções que devolvam ao advogado a dignidade de exercer sua missão sem comprometer a própria saúde.
Ansiedade, pressão e depressão: os desafios invisíveis da profissão
A advocacia é uma profissão em que a pressão é constante. Há prazos processuais que não podem ser descumpridos, audiências que exigem preparo minucioso, clientes que depositam no advogado todas as suas esperanças e uma concorrência cada vez mais acirrada. Esse ambiente gera ansiedade crônica, que muitas vezes se transforma em esgotamento físico e mental.
Outro fator de risco é a pressão financeira. Honorários aviltados, dificuldade de captação de clientes e o peso das despesas de manter um escritório criam um ciclo de preocupações que se soma às responsabilidades jurídicas. O resultado é um nível elevado de estresse que compromete o desempenho profissional e a vida pessoal.
Em muitos casos, esses fatores levam à depressão. Não são poucos os relatos de advogados que, diante do acúmulo de frustrações e da ausência de apoio, caem em estados de desânimo profundo. Esse adoecimento não afeta apenas o profissional, mas toda a sociedade, pois advogados desmotivados e fragilizados não conseguem exercer plenamente sua função de defensores da Justiça.
O impacto emocional da advocacia precisa ser encarado de frente. Não se trata de uma fraqueza individual, mas de uma consequência natural de um ambiente de trabalho hostil e, muitas vezes, solitário. Por isso, soluções institucionais são urgentes.
A ABA e o compromisso com a saúde mental da advocacia
Na Associação Brasileira de Advogados (ABA), compreendemos que a luta pela valorização da advocacia passa também pela saúde mental e pelo apoio emocional dos nossos associados. Reconhecer a dor da classe é o primeiro passo para transformá-la em força coletiva e oferecer alternativas concretas.
Entre as propostas que defendemos, está a criação de espaços de acolhimento para advogados que enfrentam momentos de fragilidade. Seja em formato presencial ou online, esses espaços devem permitir que os profissionais encontrem orientação, escuta e suporte para lidar com suas dificuldades emocionais.
Outra iniciativa essencial é o desenvolvimento de projetos de cuidado contínuo, como grupos de apoio, palestras sobre equilíbrio emocional, programas de prevenção ao burnout e parcerias com psicólogos especializados em saúde ocupacional. A ideia é oferecer ferramentas práticas para que os advogados possam conciliar a rotina profissional com o cuidado pessoal.
Também acreditamos na importância da conscientização da classe. Falar sobre saúde mental é quebrar tabus e mostrar que ninguém está sozinho. Campanhas de informação e sensibilização são fundamentais para estimular advogados e advogadas a procurar ajuda sem medo de estigmatização.
Esse compromisso vai além da profissão. Ao cuidar da saúde mental dos advogados, estamos fortalecendo a advocacia como um todo, garantindo que cada profissional tenha condições de exercer sua função com dignidade, equilíbrio e qualidade.
Conclusão: dignidade profissional começa pelo cuidado com a mente
A advocacia brasileira precisa ser valorizada em todos os aspectos. Lutar por honorários justos, defender prerrogativas e buscar reconhecimento social são pautas fundamentais, mas não suficientes. É preciso, também, cuidar da saúde mental daqueles que fazem da advocacia sua missão de vida.
Cuidar da mente é valorizar a advocacia. Essa não é apenas uma frase de impacto, mas uma verdade profunda que precisa guiar nossas ações institucionais. Sem advogados emocionalmente saudáveis, não há como garantir uma Justiça forte, democrática e eficiente.
Como presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA), reafirmo meu compromisso de colocar a saúde mental da advocacia como prioridade. Vamos seguir construindo projetos de acolhimento, fortalecendo redes de apoio e garantindo que cada advogado e advogada saiba que não está sozinho nessa caminhada.
A dignidade da profissão começa pelo ser humano. E quando cuidamos do ser humano, cuidamos também da Justiça, da democracia e do futuro da advocacia brasileira.
Esdras Dantas de Souza é advogado, professor e Presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA)