Por Esdras Dantas de Souza, presidente da Associação Brasileira de Advogados (?ABA)
Em um mundo cada vez mais conectado, mas paradoxalmente individualista, a máxima “Ninguém se importará com sua história até você conseguir vencer” parece ressoar com uma frequência alarmante. Essa percepção, embora possa parecer cínica à primeira vista, revela uma verdade inquietante sobre a natureza das relações humanas na sociedade contemporânea. Geralmente, somos utilizados para que os outros atinjam seus objetivos e, uma vez que esses objetivos são alcançados, somos descartados sem cerimônia. Este é um ciclo que precisa ser quebrado, não apenas por uma questão de dignidade, mas pela saúde de nossas relações interpessoais e comunitárias.
Compreender que a dinâmica de dar e receber é essencial para o desenvolvimento de relações saudáveis é o primeiro passo para construir uma sociedade mais empática e coesa. Ajudar o próximo é, sem dúvida, um dos maiores atos de generosidade humanos, mas é igualmente importante estar aberto a receber ajuda. Esta é a verdadeira essência da reciprocidade. Quem é ajudado e não ajuda ninguém está quebrando um ciclo vital de apoio e solidariedade, e tal comportamento não deve ser respeitado ou incentivado.
A amizade, um dos pilares mais importantes de nossas vidas sociais, não escapa a esta regra. Uma verdadeira amizade é uma via de mão dupla, onde o dar e receber se equilibram de forma justa e respeitosa. A amizade não se sustenta na dinâmica em que apenas um dos lados leva vantagem; ela se fortalece através do respeito mútuo e do apoio contínuo. É fundamental nos afastarmos daqueles que não respeitam essa dinâmica, pois relações unilaterais não apenas nos desgastam emocionalmente, mas também corroem o tecido de confiança e cooperação que mantém nossa sociedade unida.
Portanto, devemos nos esforçar para cultivar relações baseadas no respeito mútuo e na reciprocidade. Isso significa estar disposto a estender a mão quando alguém precisa de ajuda e, igualmente, estar aberto a aceitar ajuda quando nós mesmos estamos em necessidade. Este é o fundamento para uma sociedade mais justa, gentil e solidária.
A mensagem que devemos levar adiante é clara: valorizemos aqueles que compreendem e praticam a reciprocidade. Afastemo-nos daqueles que veem as relações como meros meios para atingir fins pessoais. Ao fazer isso, não apenas enriquecemos nossas próprias vidas, mas também contribuímos para uma cultura de respeito e apoio mútuo que pode transformar nossa sociedade para melhor.