A política brasileira vive um dos momentos mais preocupantes de sua história recente. Em vez de ser pautada por discussões sobre políticas públicas e soluções para os complexos problemas do país, o cenário eleitoral tem sido marcado por uma retórica de ódio, acusações mútuas e um claro desinteresse por parte dos candidatos em apresentar propostas concretas. Esse fenômeno não é novo, mas a sua intensificação nos últimos anos aponta para uma degradação sem precedentes do debate político, com consequências que reverberam em toda a sociedade.
A Falta de Propostas e o Predomínio das Acusações
Nas campanhas eleitorais de hoje, muitos candidatos parecem mais preocupados em atacar os adversários do que em apresentar propostas viáveis para o cargo que disputam. A troca de ofensas e acusações pessoais domina os debates e as propagandas eleitorais, onde a estratégia parece ser desmoralizar o oponente a qualquer custo. Em vez de discutir educação, saúde, segurança ou economia, os aspirantes a cargos públicos focam em desenterrar escândalos passados, reais ou fabricados, e em amplificar falhas de seus concorrentes.
Isso cria um ambiente em que a discussão política se torna superficial e polarizadora, afastando o eleitorado das questões que realmente importam para o país. Pior ainda, essa estratégia de ataque constante não oferece ao cidadão uma visão clara de como o candidato pretende governar ou enfrentar os desafios do cargo. Em muitos casos, o eleitor vota por exclusão, optando por quem parece “menos pior” diante de tantas acusações, sem, contudo, saber o que o candidato realmente defende ou quais são suas propostas.
A Escalada da Violência Política
Além da falta de debate de ideias, a política brasileira também vive um preocupante aumento da violência. Casos de agressões físicas entre partidários, assassinatos motivados por divergências políticas e até ameaças contra figuras públicas se tornaram mais frequentes nos últimos anos. Em 2022, por exemplo, vários casos de violência política resultaram em tragédias, com eleitores e candidatos sendo vítimas de atentados e confrontos violentos. Esse clima de hostilidade reflete o nível de radicalização que tomou conta do país, com as discussões políticas muitas vezes degenerando em ódio e intolerância.
As redes sociais amplificam esse cenário, onde ataques verbais e fake news são disseminados rapidamente, inflamando ainda mais as tensões. Essa polarização cria um ambiente em que o diálogo e a negociação, essenciais para a democracia, se tornam praticamente impossíveis.
Infiltração do Crime Organizado na Política
Outro aspecto alarmante do cenário político brasileiro é a infiltração de membros ou associados de organizações criminosas nos três poderes da República. Existem relatos e investigações que apontam para uma crescente presença do crime organizado, tanto no Legislativo, quanto no Executivo e no Judiciário. Políticos eleitos com o apoio de facções criminosas, ou que possuem vínculos diretos com atividades ilícitas, comprometeram a integridade das instituições.
Essa infiltração vai além de simples corrupção; é uma verdadeira captura do Estado por interesses escusos, que minam a capacidade do governo de agir em prol do bem público. Em regiões dominadas pelo tráfico de drogas ou milícias, essas organizações controlam áreas inteiras, impondo seu poder sobre a população e determinando o resultado de eleições por meio de coerção ou compra de votos.
O Reflexo na Democracia
Toda essa situação coloca em xeque a própria qualidade da democracia no Brasil. Uma democracia forte exige candidatos comprometidos com o debate público e a busca por soluções. No entanto, o atual panorama mostra um enfraquecimento das instituições e um crescente desapontamento da população com a política. A sensação de que os eleitores não têm escolhas reais, já que muitos candidatos parecem mais interessados em suas próprias agendas ou em manter seus privilégios, apenas agrava essa crise de confiança.
Para reverter essa situação, é necessário que os próprios atores políticos mudem suas posturas e comecem a tratar a política com a seriedade que ela merece. Isso significa abandonar as táticas de ataque pessoal e focar em propostas, debater soluções e, acima de tudo, agir em prol do bem comum. Ao mesmo tempo, a sociedade civil precisa continuar vigilante, cobrando transparência e exigindo que os eleitos cumpram seus compromissos.
A política não pode ser apenas um campo de batalha de insultos e violência; ela precisa ser um espaço de construção e transformação social. Caso contrário, o Brasil corre o risco de ver sua democracia cada vez mais fragilizada, corroída por interesses obscuros e pela ausência de um verdadeiro debate público.