Artigo. Evite armadilhas: os 5 erros mais comuns cometidos por advogados e contadores ao criarem uma holding

Por Adriana Nicolino

1.            Introdução

 

O planejamento sucessório é uma etapa fundamental para proteger seu patrimônio e garantir um legado sólido para as futuras gerações. No entanto, cuidado! Muitos advogados e contadores, na tentativa de ganhar o cliente, cometem erros técnicos graves ao lidar com holdings, resultando em armadilhas financeiras que podem custar caro.

 

Neste artigo, vamos expor os cinco erros técnicos mais críticos que você deve evitar a todo custo ao considerar a criação de uma holding.

 

2. Cinco erros críticos que você deve evitar

 

2.1. : Misturar Bens Pessoais com Atividade Empresarial na Holding

 

Um erro grave que alguns advogados e contadores cometem ao criarem holdings é misturar os bens pessoais do cliente com suas atividades empresariais dentro da mesma estrutura de holding. Isso pode ser comparado a colocar todos os ovos em uma única cesta, e aqui está o porquê disso ser um grande problema:

 

Risco de Expor os Bens Imóveis do Cliente: Quando você mistura seus bens pessoais, como sua casa ou propriedades, com sua atividade empresarial dentro da holding, você está expondo esses bens a riscos desnecessários. Imagine que sua empresa enfrente uma ação judicial ou problemas financeiros. Se tudo estiver misturado, seus bens pessoais, incluindo sua casa, podem ser usados para pagar dívidas da empresa.

 

Perda de Proteção: Uma das principais razões para criar uma holding é proteger seus bens pessoais de problemas relacionados à sua atividade empresarial. Misturá-los compromete essa proteção. Em caso de problemas na empresa, você pode perder não apenas seus negócios, mas também sua casa e outros bens importantes.

 

Complicações Fiscais: Além dos riscos legais, misturar bens pessoais com atividades empresariais pode complicar a situação fiscal. Pode ser difícil determinar quais despesas são pessoais e quais são comerciais, o que pode levar a problemas com o fisco e aumentar seus impostos.

 

2.2. Manobras que Aumentam Custos

 

Alguns profissionais podem tentar manobras complexas que, apesar de parecerem vantajosas a curto prazo, podem resultar em custos significativamente maiores no longo prazo. Esteja atento a estratégias que pareçam “boas demais para ser verdade” e busque aconselhamento transparente.

 

Cuidado com as armadilhas das AVJ’s para Reduzir o ITBI: Alguns profissionais podem tentar manobras complexas, como as chamadas “AVJ’s” (Avaliação a valor justo), que, à primeira vista, parecem ser vantajosas para reduzir o Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) nas prefeituras. Essa estratégia envolve transferir os imóveis para a holding de forma a evitar ou minimizar o pagamento do ITBI.

 

Riscos de Fiscalização e Denúncia: Embora essas manobras possam parecer atrativas, é importante entender os riscos associados. As prefeituras e órgãos fiscais estão cada vez mais atentos a táticas que buscam evitar impostos de maneira inadequada. Fazer uma AVJ para reduzir o ITBI pode colocar o cliente sob o radar das autoridades fiscais, resultando em auditorias, multas e até mesmo a necessidade de pagar o ITBI retroativamente com juros e correções.

 

2.3. Desconsiderar Implicações Tributárias – Riscos de Reavaliação das Quotas nos Estados a Preço de Mercado

 

Ao desconsiderar as implicações tributárias em estratégias de holding, um dos riscos significativos a serem considerados envolve a reavaliação das quotas da empresa nos estados que adotam a prática de avaliar essas quotas a preço de mercado na hora de transferi-las aos herdeiros. Isso pode levar a passivos fiscais inesperados que podem corroer significativamente o patrimônio.

 

Prática de Reavaliação das Quotas a Preço de Mercado: Alguns estados brasileiros têm a prática de reavaliar as quotas das empresas quando são transferidas ou doadas aos herdeiros. Em vez de considerar o valor original ou de aquisição das quotas (o valor do patrimônio líquido), eles avaliam as quotas com base no valor de mercado atual dos bens que fazem parte da empresa. Isso significa que, mesmo que os bens tenham sido integralizados pelo valor declarado no imposto de renda dos proprietários, o estado pode considerar um valor de mercado mais alto para calcular o imposto de doação.

 

Riscos e Implicações: Os riscos e implicações dessa prática podem ser substanciais:

 

Aumento do Imposto sobre Doações e Heranças: A reavaliação a preço de mercado pode resultar em um aumento significativo no imposto sobre doações e heranças a ser pago pelos herdeiros, uma vez que o valor tributável é maior.

 

Despesas Inesperadas: Os herdeiros podem não ter previsto o montante adicional que terão que pagar em impostos devido à reavaliação das quotas, o que pode causar despesas inesperadas.

 

Impacto na Situação Financeira da Holding: A holding em si pode ser afetada financeiramente se for necessário pagar impostos adicionais, o que pode reduzir sua capacidade de cumprir os objetivos de planejamento sucessório.

 

Estados que Adotam Essa Prática: Os estados brasileiros têm autonomia para definir suas próprias regras e práticas fiscais. Alguns estados que adotam a prática de reavaliação de quotas a preço de mercado incluem São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, dentre outros. No entanto, as práticas tributárias podem mudar ao longo do tempo, por isso é essencial consultar um profissional tributarista atualizado sobre a legislação vigente em sua jurisdição específica.

 

2.4. Simular a Venda de Quotas em Vez de Doá-las – Riscos e Limitações

 

Um erro comum em planejamento sucessório envolve simular a venda de quotas da holding aos herdeiros, em vez de fazer a doação direta dessas quotas. Embora essa estratégia possa parecer uma maneira de evitar impostos de doação e manter algum controle sobre os ativos, ela vem com riscos e limitações significativas. Vamos explorar esses aspectos:

 

Impossibilidade de Uso da Cláusula de Reversão: Ao simular uma venda de quotas, a cláusula de reversão, que permite que o patrimônio retorne para o doador caso o donatário (pessoa que recebeu o bem doado) faleça antes, geralmente não pode ser aplicada da mesma forma que em uma doação. Sem essa cláusula, caso o donatário faleça, as quotas irão para os herdeiros dele, o que pode ser um grande problema.

 

Limitações das Cláusulas Restritivas: As cláusulas restritivas, que normalmente limitam a capacidade do herdeiro de vender ou transferir as quotas e/ou de ter que dividir o patrimônio adquirido com o cônjuge, também podem ser afetadas pela simulação de venda. Isso porque, na venda, não é possível utilizar essas cláusulas, enquanto que na doação é.

 

Riscos Fiscais e Legais: Simular a venda de quotas quando na verdade é uma doação pode ser considerado evasão fiscal, o que pode resultar em penalidades fiscais substanciais e potencialmente ações legais. É importante lembrar que a legislação tributária e as práticas fiscais podem variar de jurisdição para jurisdição, e as autoridades fiscais estão cada vez mais atentas a estratégias que buscam evitar impostos de forma inadequada.

 

Alternativas Mais Eficientes: Em vez de simular a venda de quotas, é geralmente mais eficiente e transparente considerar outras alternativas de planejamento sucessório, como a doação direta com o devido pagamento dos impostos de doação. Isso proporciona uma base sólida para a transferência de ativos aos herdeiros, evitando a possibilidade de implicações fiscais e legais desfavoráveis no futuro.

 

2.5. Falta de Revisão e Atualização – Vulnerabilidades em Face de Mudanças nas Circunstâncias

 

Um dos erros mais críticos em planejamento sucessório é a falta de revisão e atualização periódica das estratégias de holding. Essa negligência pode deixar os clientes vulneráveis a mudanças nas leis fiscais e legais, bem como a novas circunstâncias financeiras e familiares. Vamos explorar algumas situações em que a falta de revisão e atualização pode representar um risco significativo:

 

Aquisição de Novos Bens: Quando os clientes adquirem novos bens, como imóveis, negócios ou investimentos, esses ativos podem não estar inicialmente incluídos na estratégia de holding existente. Se esses ativos não forem devidamente incorporados à holding e à estratégia de planejamento sucessório, eles podem ficar desprotegidos e sujeitos a impostos e despesas não planejadas.

 

Venda de Ativos na Holding: Da mesma forma, quando os clientes decidem vender ativos que estão dentro da holding, a estratégia de planejamento sucessório deve ser revisada e atualizada para refletir as mudanças na composição do capital social e impostos a serem recolhidos sobre essa venda. A falta de atualização pode levar a ineficiências fiscais ou a uma desconexão entre os objetivos do cliente e a estratégia em vigor.

 

Mudanças na Legislação Fiscal e Legal: As leis fiscais e legais estão em constante evolução. Novas regulamentações podem afetar substancialmente a eficácia das estratégias de holding existentes. A falta de revisão pode resultar em estratégias desatualizadas que não estão em conformidade com as leis vigentes, o que pode levar a penalidades fiscais e legais.

 

Mudanças na Família e nos Beneficiários: Alterações na estrutura da família, como nascimentos, casamentos, divórcios ou falecimentos, podem afetar significativamente as necessidades de planejamento sucessório. A falta de atualização da estratégia de holding pode levar a distribuições inadequadas de ativos ou à exclusão de herdeiros legítimos.

 

Objetivos Financeiros em Evolução: Os objetivos financeiros e de patrimônio podem mudar ao longo do tempo. A falta de revisão pode resultar em uma estratégia de holding que já não atende aos objetivos do cliente, seja de proteção de ativos, redução de impostos ou outros fins

 

financeiros.

 

3. Conclusão

 

Estes são erros técnicos graves que podem prejudicar profundamente seu planejamento sucessório. Lembre-se de que a orientação de um profissional experiente, é essencial para evitar essas armadilhas e proteger seu patrimônio de maneira eficaz. Não hesite em buscar aconselhamento especializado e esteja vigilante contra manobras que possam prejudicar seu futuro financeiro.

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