Por Esdras Dantas de Souza
Apesar de estarem cercadas por amigos, familiares e profissionais, muitas mães atípicas no Brasil relatam viver uma solidão emocional profunda. Trata-se de uma solidão silenciosa e invisível, que não se vê nas fotos de redes sociais, mas que se instala no cotidiano de quem cuida, luta e carrega responsabilidades que poucos compreendem.
Essa realidade tem ganhado cada vez mais atenção em fóruns de debate sobre direitos das pessoas com deficiência, especialmente no contexto das famílias atípicas – aquelas que vivem a rotina de cuidados intensivos com filhos neurodivergentes, como os que estão no Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Quando o Apoio Falha: Entre a Rede Social e o Isolamento Real
Muitas mães atípicas relatam que, embora façam parte de grupos, comunidades ou estejam ativamente engajadas na escola dos filhos, falta espaço para escuta real. Em diversas situações, seus relatos de cansaço, dúvidas ou frustrações são silenciados por frases como:
“Você é forte, vai dar conta”,
“Mas pelo menos seu filho é inteligente”,
“Isso passa, é só uma fase”.
Essas falas, embora bem-intencionadas, invalidam a dor e aumentam o sentimento de isolamento. Como destaca um depoimento frequente entre essas mulheres:
“Ninguém entende o cansaço de quem nunca pode desligar.”
Sobrecarregadas e Invisíveis
A rotina das mães atípicas costuma ser intensa: consultas médicas, terapias, reuniões escolares, agendamentos com assistentes sociais, e muitas vezes a responsabilidade integral pelo desenvolvimento da criança. Algumas abandonam a carreira para se dedicar exclusivamente ao cuidado, o que pode levar à perda de identidade pessoal e independência financeira.
Essas mães frequentemente não têm tempo ou energia para lazer, autocuidado ou sequer descanso. E, quando tentam expressar esse esgotamento, ouvem julgamentos como “falta de gratidão” ou “dramatização”.
A Importância do Acolhimento Sem Julgamento
Especialistas em saúde mental e inclusão familiar destacam que ouvir sem tentar corrigir é uma das formas mais eficazes de acolhimento. Grupos de apoio, rodas de conversa, acompanhamento psicológico e projetos de escuta ativa podem fazer toda a diferença no enfrentamento da solidão materna.
Iniciativas como o Portal Azul, que promove apoio jurídico e emocional às mães atípicas, surgem como alternativa real para quebrar o ciclo de invisibilidade. O objetivo é garantir que essas mulheres sejam vistas, respeitadas e fortalecidas.
Caminhos Possíveis
Para transformar essa realidade, é essencial:
- Incentivar espaços de fala segura e sem julgamento;
- Oferecer serviços públicos e privados de apoio psicológico às famílias;
- Garantir políticas públicas de inclusão não apenas para a criança, mas para o núcleo familiar;
- Estimular a sociedade a ouvir e compreender, antes de aconselhar.
Conclusão
A solidão da mãe atípica não é ausência de pessoas ao redor. É ausência de escuta, de compreensão e de tempo para si. Reconhecer essa dor é o primeiro passo para construir uma rede de apoio mais humana e justa.
No Portal Azul, queremos lembrar que ninguém precisa enfrentar tudo sozinha. Aqui, cada história importa.
Esdras Dantas de Souza é advogado, professor, presidente da ABA e diretor do Portal Azul